sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Cancro vs preços baixos

(retirado de http://pegadafeminina.blogspot.pt/)

Ligação cruel...
Cruel porque ligamos um nome pesado a um chavão que se vê e ouve por todo lado nos dias de hoje: "Low cost".
Depois de uma manhã a entrevistar candidatos a explicadores nas mais variadas disciplinas, dou por mim com uma tremenda confusão e revolta interior.
Pensei em expor o que sinto logo no momento, mas optei por ir almoçar ao mesmo tempo que vejo as notícias do dia.
Logo que ligo a televisão, deparo-me com o "Open Day" da Unidade da Mama na Fundação Champalimaud e de uma das suas profissionais a referir que o que podem encontrar naquela fundação privada são preços mais acessíveis para que mais público tenha acesso ao tratamento de cancro que de outra forma não teriam. O que encontram naquele local especializado naquilo que faz, que conta com o máximo de qualidade e competência dos profissionais selecionados para lá trabalharem e desenvolverem os seus projetos, são preços bem mais aliciantes do que os outros privados.
Ora, o Centro Educativo e de Formação Espaço crescer em Arada, Ovar, foi pensado exatamente desta forma, com as únicas diferenças de que não é uma Fundação privada que conta com muitos € de fundos doados e não é para serviços de tratamento, combate e investigação relacionados com o cancro mas sim com a educação.
Presunção minha qualquer tipo de comparação do Espaço Crescer com a dimensão da Fundação Champalimaud?
Não, não é, pois as coisas têm a importância que nós próprios lhes damos e o Espaço Crescer é um projeto pensado para dar oportunidade a qualquer pessoa, em qualquer idade, com qualquer condição física, psicológica, financeira, familiar ou profissional, com o máximo de qualidade e competência profissionais.
Tentamos dar oportunidade para que mais pessoas tenham acesso a serviços especializados de educação e psicopedagógicos para que tenham ferramentas para desempenhar os vários papéis a que estão obrigados desempenhar nas diferentes fases da vida.
Mais importância que esta? Não encontro.
Todos já experimentamos melhorar a nossa saúde e qualidade de vida quando nos interessamos por algo, quando estamos envolvidos, empenhados e motivados. E resulta!
Isto acontece na escola, no trabalho e em casa.
Os preços baixos facilitam o acesso e não pioram a qualidade do serviço.
O que dificulta é mesmo a escolha dos profissionais, ou não...
Ou não porque ao entrevistar os candidatos tenho que selecionar quem percebe a nossa dinâmica e partilha dos mesmo valores que nós: aprendizagem ao longo da vida, colaboração, solidariedade, multiculturalidade, igualdade, inclusão, transparência.
Ao realizar a entrevista não estamos só a apresentar uma função com tarefa. Estamos a conversar com pessoas que irão lidar com pessoas que confiam em nós, Espaço Crescer e sua equipa de trabalho, a ajuda para o seu sucesso ou dos seus filhos.
Não estamos a apresentar um valor por hora só porque existe um salário mínimo ou o costume. Estamos a apresentar valores que são possíveis de realizar a longo prazo, com tendência para crescer.
Quem pensa que o dinheiro vale tudo, desengane-se...
Não costumo ser tão agressiva a exprimir a minha opinião, mas cada dia que passa me revolta mais a ideia de trabalhar apenas porque dá mais dinheiro...
A longo prazo isso não é nada inteligente...
Se todos estivermos bem, ficamos todos bem e acaba tudo bem.
É uma visão muito romântica?
Será...?
Acho que não...
O que vale mais quando chega a hora em que é detetado um cancro ou outra doença grave ao nosso familiar ou amigo mais próximo e que tanto amamos?
O dinheiro que ganhamos à hora?
As horas que passamos com essa pessoa?
E quando essa doença é detetada em nós próprios, o que importa?
O luxo com que vivemos a vida?
Ou a forma positiva como a levámos?
Eu prefiro sorrir e fazer sorrir de forma natural e espontânea.
Estar envolvida em projetos ou relações em que a preocupação máxima é o bem estar geral.
Se somos bons a detetar e tratar de cancro, como a Fundação, porque não fazê-lo a mais gente, mesmo ganhando menos com cada pessoa?
Se sou boa profissional de educação, porque não tornar isso mais acessível a mais gente do que tornar a educação extra escolar como um negócio de elite?
E associar a qualidade ao preço alto? Pensamento do século passado, quando o poder de compra era só para alguns, pois quem não tinha pura e simplesmente não comprava.
Agora o poder de compra é superior para todos mas ilusório para alguns, pois quem oferece os serviços torna-os caros e dificulta a vida a muitos e a circulação da moeda!

É esta revolta que me invade hoje... Trabalhar naquilo que gosto, porque gosto e porque levei uma ideia para a frente porque acredito piamente nela e ser posta em causa por quem continua com má cara à procura de emprego.

Muitos são os casos de sucesso que provam que "com tão pouco se faz tanto", como aprendi com a experiência de docente voluntária (a remuneração 0€) em Lichinga, Moçambique, e que relato no livro "Titia amanhã não vou vir", à venda em http://edicoesvieiradasilva.pt/content/titia-amanh%C3%A3-n%C3%A3o-vou-vir.

E depois de vir de lá bem mais rica como pessoa, chego cá e ouço "Ir dar aulas sem receber? Nem pensar! Não estive a estudar para isso!" Ou seja, pelos vistos há pessoas que só valem como ex-estudantes que tiraram um curso e não como pessoas capazes de desempenhar papéis na sociedade.

Peço desculpa se feri alguém com estas palavras, mas hoje é o dia em que as minhas feridas feitas por algumas pessoas estão a arder!

Boas opiniões!

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