quarta-feira, 22 de outubro de 2014

5 minutos de pausa


Podem ser 5 minutos, 5 horas, 5 dias, 5 semanas, 5 meses, 5 anos....
Em 2010 optei por 5 meses de pausa durante o ano de 2011 para reorientar a minha vida.
Como o escolhi fazer?
Fui até ao norte de Moçambique, uma cidade chamada Lichinga, capital do distrito da província do Niassa, onde a terra é vermelha e quem manda no dia a dia é o clima.
Peguei nas minhas coisas e parti para esta gente que me recebeu com tanto carinho que hoje me faz falta...
Durante pouco mais de 5 meses conheci verdadeiros sorrisos de alunos e titias que me fizeram ver a vida de outra forma, como professora voluntário de uma turma de 2º ano.
Agora, tento viver a vida "pouco a pouco", como me ensinaram.
Às vezes não é fácil, pois o que me rodeia aqui não é nada do que me rodeava lá.
Quando começo a perder o norte novamente, quando fico um pouco desorientada e desmotivada com tudo aquilo em que acredito e que por vezes parece ser remar contra a maré, pego no meu livro e abro ao calhas.
Rapidamente sinto a minha cara a ficar sorridente e relembro a situação que está descrita na página que calhou.
O caso de hoje foi sobre a imaginação, que tanta falta nos faz no dia a dia para conseguirmos enfrentar todas as suas exigências.

Este livro, aproveito agora para a publicidade, está à venda no Centro Educativo e de Formação Espaço Crescer em Ovar, Arada ou em http://edicoesvieiradasilva.pt/content/titia-amanh%C3%A3-n%C3%A3o-vou-vir.
É uma boa sugestão de leitura para uma paragem de 5 minutos numa cadeira ao sol, mesmo que não se tenha oportunidade de ir até uma esplanada à beira-mar.

Aqui fica o excerto da página que me calhou hoje:

A imaginação é sem dúvida o que este povo tem de melhor. Nas aulas, as atividades com mais sucesso são as de pintura, adaptando-se facilmente a novos elementos por si desconhecidos como os pincéis, guaches ou aguarelas. As atividades de mímica, o desenho sobre o que viram, mesmo que seja um filme visto por todos através do ecrã do meu computador portátil, sem projeção. E as aulas de música, palavras para quê? Estas crianças têm o ritmo a passear nas veias. Pegam num instrumento e dali fazem música. Cantamos uma música nunca acompanhada por instrumentos e eles conseguem entrar no ritmo sem qualquer problema. Até criam ritmos diferentes e dançam de imediato ao som do que criam. E ficam felizes só por tentarmos acompanhar o que fazem!
Se a tarefa não parecer complexa, eles entusiasmam-se, mas se mostrar que requer mais empenho de raciocínio, muitos são os que desmotivam e ficam simplesmente à espera que o tempo passe sem se chatearem. Faz-me lembrar o comportamento de alguns adultos daqui, como os dos correios ou o técnico de informática que não conseguiu resolver os problemas iniciais que tive com a internet em casa.
Mas a sua imaginação supera esta falta de empenho. Como qualquer cidadão do mundo, a população de Lichinga também tem tempos livres, mas passa-os de forma diferente por não ter tanta oferta de consumo. Algumas crianças brincam da forma que conhecemos, como "jogar game", como eles dizem. Outras brincam em contacto direto com o meio, sem qualquer televisor ou outro aparelho, utilizando apenas caniços e terra. Outras ainda durante os seus tempos livres, ou seja, o tempo que não estão na escola, aproveitam para ajudar as mães. Nos fins de semana lá vemos dois meninos e algumas senhoras que carregam madeira que sobrou de uma serração, para se poderem aquecer em casa, explicam elas. Andam com este peso na cabeça cerca de uma hora, segundo informaram. E assim está feito o descanso para preparar mais uma semana de trabalho ou escola!

Bons 5 minutos!

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