sábado, 16 de abril de 2011

Dobragens em papel

Quem nunca fez um avião de papel?
E um que consiga planar,ou seja, um que voe?
Depois de copos, pássaros, cães e ursos, a alegria de aprenderem a fazer um avião em papel é muita, mas daí a que ele voe...
Depois de fazermos, eu fui a primeira a testar o voo do avião dentro da sala. Não voava... A partir daí fiz a proposta aos alunos para testarem o seu avião no exterior da sala, explicando os melhoramentos que poderiam fazer.
Tive que confessar que o meu forte não é o avião, mas que tinha a ideia que a eficácia do voo está na distribuição do peso, ou seja, nas dobragens.
Apenas dois dos alunos conseguiram fazer com que o seu avião planasse. E como voava!
Na preparação desta aula encontrei um site bastante interessante sobre aviões de papel.
Nunca pensei que fosse possível fazer de tantas formas e que existissem tantas categorias...
Aqui fica o site http://www.origami-kids.com/avioesdepapel.htm

Ovos da Páscoa



Mais uma vez foi utilizado o barro, mas desta vez as peças de arte não foram de criação livre mas sim com o tema da Páscoa, mas específicamente, ovos.
Fizeram também uns cestinhos de cartão para o transporte dos ovinhos.
Depois de feitos os ovos e os cestinhos, na sequência da leitura da história "A velhinha, o coelho e a galinha", todos pintaram os ovos (com as aguarelas vindas de Portugal) e distribuiram pelas outras salas como oferta. Tal como a velhinha fez com os ovos da sua galinha, estes ovos foram distribuídos por todas as crianças da escola.
Alguns quiseram levar o seu cestinho com os ovos para casa, mas praticamente todos mostraram grande prazer em entregar um ovo feito por si, exibindo também os cestinhos.

Os livros saem à rua

O que fazer nos últimos dois dias de aulas, depois das avaliações estarem formalizadas?
Como estes alunos estão constantemente a dizer "Titia, estou a pedir livro." decidi colocar todos os livros da escola ao seu dispor.
O que aconteceu? Não houve um segundo em que a mesa dos livros estivesse sozinha. Alguém tinha sempre um livro (ou dois) na mão a tentar ler.
A maioria até pediu para o levar para casa para ler durante as férias. Por minha tristeza, isso não foi possível, pois estes são os únicos livros da escola...
Num futuro próximo serão construídas mais duas salas (com a ajuda da embaixada da Irlanda) e uma delas será utilizada como centro de recursos, com biblioteca e um computador.
Nessa altura todos os alunos poderão ter o prazer de ler sempre que quiserem sem ter de esperar que os livros "saiam à rua".

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tufu

Este grupo de mulheres representou a dança Tufu, que é dançar a saltar à corda.
Têm as caras pintadas pois são Macuas.
Incrível como até sentadas conseguiam mexer o corpo como dança e saltar à corda, mesmo parecendo que não saiam do chão.
Momento único!

domingo, 10 de abril de 2011

Artistas convidados



Como um bom evento, este dia foi enriquecido por grupos de cantares, dança e teatro.
Este grupo representou as várias províncias de Moçambique (de sul para norte): Maputo, Gaza, Inhambane, Manica, Sofala, Zambézia, Tete, Nampula, Cabo Delgado e Niassa.
O Niassa aqui merece especial destaque!

Grupos representativos das mulheres


Aqui está um grupo com o seu traje escolhido por elas.
Estas senhoras representam as mulheres da administração do governo da província do Niassa, cuja capital é a cidade de Lichinga.
Como este, circulavam imensos grupos de mulheres todas vestidas a rigor e consoante aquilo que representavam.
A grande maioria estava a circular ou em roda a cantar e a dançar.
Mas estas senhoras (comigo infiltrada) conseguimos apanhar à sombra no jardim que circunda o monumento dos heróis, local de destaque neste dia.

O dia da Mulher Moçambicana


Como uma oportunidade de se expressar livremente, as mulheres de Lichinga vestiram as capulanas em conjunto com t-shirts com mensagens variadas, cujo tema central é a luta pela paz e contra a pobreza.
Admiro estas mulheres por comemorarem este dia mesmo 40 anos depois da morte da sua heroína, Josina Machel.
Mas deixa-me a pensar se a evolução desde 1971 foi significativa.
Parece ser, pelos cargos de poder que cada vez mais as mulheres vão ocupando. Mas para isso ainda têm que sere associadas da Frelimo.
E fico por aqui...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O perigo das histórias

Hoje descobri um grande perigo que corremos ao propôr a um aluno que leia ou copie uma determinada história. E foi da pior forma...
Uma pequenina história do manual foi a minha sugestão para exercitarem a escrita através da cópia.
O tema era a família...
Quando percebo que um dos alunos parou de escrever e ficou a olhar para o livro, tento descobrir porque o fez.
Quando vejo em que palavra parou, verifico que foi em "pai". Era aquele aluno cujo pai faleceu há menos de dois anos, vítima de SIDA.
Lá consigo dar a volta à questão, mas o aluno pousa a cabeça sobre os braços cruzados e começa a chorar sem dizer uma palavra e assim permanece...
Socorro! Pensei eu, sabendo perfeitamente porque estava a chorar.
Qual foi a solução que arranjei para não deixar os restantes alunos sozinhos e para não deixar o aluno em depressão?
Situações espontâneas que parecem cair do céu mandadas por algum ser superior!
Começámos a falar todos de algumas palavras em português e em inglês, até que um aluno se lembra do dialeto jaua, que o aluno em depressão sabe mais do que ninguém.
Pronto, e assim surgiu uma conversa acesa e animada sobre expressões no dialeto jaua.
Passo a transcrever aqui algumas que aprendi hoje com este aluno que ficou triste por uma história mal escolhida por mim.
editanga - porta
ichitela - árvore
macono - mão
ichala - dedo
nhuc - lápis
(perdoem-me se escrevo mal o jaua, mas como não encontro nenhum escrito neste dialeto, escrevo como se pronuncia)

Ritmo nas veias


No dia 7 de Abril comemora-se o Dia da Mulher Moçambicana. É feriado nacional.
Nesta fotografia vemos as mulheres trabalhadoras da machamba e da escolinha, todas do Projeto Seiva ao qual pertenço.
Este ano fomos (fomos, pois as portuguesas também participaram na íntegra) de capulana azul com flores amarelas.
Cada grupo de mulheres de toda a cidade e arredores tem a sua capulana característica.
Esses mesmos grupos, ao encontrarem um espaço de tempo disponível por uma espera qualquer, formavam um círculo e logo começavam a cantar e a dançar, indo à vez para o centro da roda.
É incrível a dinâmica destas mulheres!

Báu


Em vários locais da cidade encontramos rapazes a jogar este jogo de nome Báu.
Parece-se muito com um jogo que circula pelos telemóveis.
Um senhor de cá, quando lhe perguntei sobre as regras do jogo, não me soube explicar, mas adiantou que é ´"matemática pura".
Muito animado respondeu que os jovens que jogam este jogo muitas vezes não sabem a matemática que se dá nas escolas, e alguns nem sequer têm qualquer grau de escolaridade.
Mas a verdade, admite ele, é que jogam este jogo com grande rapidez de raciocínio, fazendo previsões das próximas jogadas e cálculo mental.
E assim passam horas em silêncio a jogar Báu através de raciocínio matemático sem ter consciência disso.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aprender a ler e a escrever


Várias razões terá esta pessoa para se disponibilizar para ensinar a ler e a escrever como particular, sem escolaridade reconhecida.
À primeira vista não parece convidativo, mas pensando bem, até é.
Os adultos só se podem matricular na escola até uma certa idade (penso que 30, ou lá perto).
Depois dessa idade, apenas poderão frequentar a alfabetização de adultos, que nem todos têm acesso.
Se na Europa emerge a necessidade de literacia informática e da comunicação, aqui ainda permanece a necessidade de literacia e numeracia da mais primária, principalmente para quem tem mais de 30 anos.
Outra razão poderia ser como complemento da escola oficial, visto que muitos se queixam de nada aprender quando estão a frequentar o ensino normal, pois são cerca de 100 alunos por sala ou mais. Não há pedagogia que resista...
O ensino particular (aqui também há) está fora de questão para a maioria da população de Lichinga, visto que muitos não têm ordenado, outros têm pouco.
O que vale por aqui é vender os frutos que as árvores do quintal dão.
Daí o grande contraste entre as classes sociais e daí este letreiro adequado ao seu público-alvo.

Salas dos 2 e 3 anos



A escolinha onde leciono começou por ser apenas de pré-primária. À medida que os meninos foram crescendo, as classes da primária (ensino básico) foram abrindo.
Como as titias não têm formação em educação, apenas (não querendo dizer que seja pouca, pelo contrário) a experiência que vão acumulando, estamos a acompanhar a pré-primária.
No meu caso, estou a acompanhar as titias dos 2 e 3 anos. Como tal, uma das coisas vindas de Portugal foi bonecos de encaixe, indicado para estas idades.
Nas fotografias que vemos temos 48 crianças de 2 anos numa sala para 2 titias. É incrível o que estas senhoras conseguem fazer...
Quando receberam o boneco para esta sala, a estratégia utilizada para o seu uso foi dar um tempo a cada grupinho de 6 crianças para brincarem enquanto as restantes aguardam a cantar.
Parece muito mau, mas garanto que as crianças se divertem e se desenvolvem na mesma!
O outro boneco está a ser partilhado pelas salas dos 3 anos, pois estão divididos em duas, tendo 30 crianças numa e 43 noutra sala, também com duas titias cada sala.
Como será a pedagogia nestes casos?

Plasticina



Como outros materiais aqui já mencionados, a plasticina foi um dos que chegou de Portugal diretamente para a sala de aula.
Foi utilizada para modelar figuras e sólidos geométricos.
Duas caixinhas novas mais três antigas chegaram para a turma de 37 alunos.
Como dá para ver pelas fotografias, com tão pouca plasticina foram feitos os quatro sólidos que é suposto.
E eu a pensar que era pouca plasticina para cada um, quando fui surpreendida por vários alunos que começaram a criar mais bonequinhos e outros objetos.
Mais uma vez digo, com tão pouco fazem tanto!

domingo, 3 de abril de 2011

Excursão à machamba


Machamba, farm, ou quinta...
Fomos à machamba conhecer os machambeiros, animais e plantações, por caminhos todo o terreno, com a carrinha de caixa aberta de toldo cor-de-laranja, conduzida pelo Tio João.
Se fosse em Portugal, teria cometido múltiplas infrações de segurança. Mas aqui, se não for assim, não há outra forma.
Mas devo dizer que vale bem a pena arriscar para que todos se sintam bem.
Temos alunos de várias classes sociais, incluindo filhos dos machambeiros que percebem de machambas e filhos de trabalhadores da função pública que percebem de computador e "games" (como eles dizem).
Em dias como este, damos oportunidade para os filhos dos machambeiros se exprimirem sobre o que mais sabem: coisas da terra.
Sabiam as plantas e animais todos, sem medo do porco enorme, do qual outros fugiram a sete pés.
O impressionante é que as crianças desta cidade, tão incluída no "mato", que vivem em casas de tijolo, são tão desconhecedoras da sua própria terra apenas por não se cruzarem com os bairros de palhotas, ou irem às compras ao supermercado e não ao mercado, ou não ajudarem a mãe a lavar a roupa pois a empregada lava.
O contraste é grande.

Figuras geométricas


Com a ajuda dos meus colegas da Universidade Aberta e da minha mãe, conseguimos fazer uma atividade engraçada com papel colorido, régua, cola e tesouras.
Os alunos ficaram radiantes por cada um ter o seu "kit" de trabalho.
Quando lhes disse que não era para devolver pois cada um deve ser responsável pelo seu próprio material, guardaram cada objeto com o máximo cuidado, dentro da sua capinha na sua própria secretária.
O povo de cá tem falta de oportunidades de se responsabilizar.
Digo oportunidades e não como acusação de falta de cuidado, pois para eles, movidos a medo durante décadas, a liberdade começa por aí, pela responsabilidade dos seus próprios atos.
Não são culpados de nada, pois sem saber não se faz, sem conhecer não se pratica.
Se nunca lhes deram a oportunidade de realizarem as suas próprias vontades, como responsabilizá-los de algo? Como saberão eles que são pessoas capazes de ser autónomos?

Brincadeiras


Quando não há suficientes brinquedos e suficientes espaços para todas as crianças brincarem, o que decidem elas fazer?
Como qualquer criança do mundo, criam a sua própria brincadeira com o que têm. Neste caso, é a terra.
Estas crianças de 2 anos reuniram-se desta forma para brincar com a terra molhada por eles.
Facilmente perceberam que é mais fácil construir com terra molhada do que com terra seca, sem ninguém lhes explicar.
É natural que daqui por um ano ou dois já saibam fazer carros de arame ou armas de caniço...

Seguranças

Como a maioria das escolas, a nossa também tem seguranças, mas com algumas particularidades...
Como é um projeto de solidariedade, onde os pagamentos são valores simbólicos e a alimentação, os trabalhadores são aqueles que mais precisam com as condições mínimas para a sobrevivência.
O abrigo debaixo da árvore é o local das refeições dos guardas, e um dos guardas é quem vemos na outra fotografia.
Qual a função, visto que a escola ainda não está toda vedada?
Evitar que os alunos tirem frutos das árvores e evitar visitantes inesperados.
E aqui vive este senhor, com teto, cama e alimentação, sobrevivendo a cada dia.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Malária

Quem não ouviu falar?
Aqui ouve-se como se de uma gripe se tratasse.
Já me tinha interrogado o que se passaria na cabeça de um dos meus alunos que alguns dias chora sem razão aparente, outros doi-lhe muito a cabeça, outros participa na aula, nunca deixando de ser um dos melhores alunos.
No intervalo pede para ficar na sala a ler ou a jogar um jogo (dos poucos livros e jogos que há), nunca se misturando muito com os seus colegas.
Hoje logo de manhã começou a chorar de tal maneira e a queixar-se da cabeça que tive que o pôr fora da sala de aula, depois de lhe cantarmos os parabéns, pois faz anos, e depois de lhe dar uma colher de ben-u-ron infantil.
A Irmã Ferreira que se encontrava na escola viu e tomou logo conta da situação, levando-o ao hospital assim que eu lhe disse que ele queixa-se com frequência mas que hoje estava pior.
No final das aulas fiquei a saber que está internado no hospital com malária de 4 cruzes que, dizem os moçambicanos, é mais fácil de tratar porque tem mais cruzes. Se fosse uma cruz seria pior.
O menino já se tinha queixado aos pais, mas eles nada fizeram. O pai até trabalha no hospital... onde ele está internado agora.
O problema da malária é que, segundo as teorias daqui, se não se trata convenientemente pode chegar ao cérebro e ocorrer a morte.
Não me lembro da primeira vez que o menino se queixou na sala... Até me assusta pensar.
Assusta mais ainda quando penso nos outros 3 alunos que frequentemente se queixam de dor de cabeça e tenho que dar a colher...
Qual a solução?
Mosquiteiras, testes e tratamentos, exterminar os mosquitos...
Mas um menino de 7 anos com família nem ao tratamento por vezes tem acesso directo. Porquê?
Só sei que está no hospital no seu dia de anos! Pelo menos deu para lhe cantar os parabéns e dar-lhe o balão que os aniversariantes recebem.
Ainda bem que se contentam com pouco...